Cerca de 49% dos novos negócios no Brasil são abertos ou mantidos pela falta de oportunidades no mercado de trabalho formal. É possível contornar este cenário?
A cultura do empreendedorismo, baseada na simples imagem de uma pessoa com uma ideia inovadora de negócio ficou bastante conhecida nos últimos anos. No entanto, a realidade é muito mais diversa e complexa em termos de oportunidade e necessidade. Assim demonstra a pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), ao demonstrar que cerca de 49% dos novos negócios no Brasil são abertos ou mantidos pela necessidade de complementar a renda do trabalho, para arcar com as despesas de casa e pela falta de oportunidades no mercado de trabalho formal.
De acordo com César Costa, diretor executivo da Semente Negócios, a discussão entre empreender por oportunidade e por necessidade muitas vezes destaca a motivação por trás do empreendedorismo. “Percebemos que as pessoas buscam pelo empreendedorismo quando o mercado de trabalho formal não os atende ou não supre suas necessidades. Logo, é importante abordar não apenas as razões para iniciar um negócio, mas as condições que perpetuam a falta de acesso e recursos. Pensando nisso, o foco deve estar em como criar um ambiente empreendedor que seja verdadeiramente inclusivo, proporcionando oportunidades equitativas para todo mundo, independentemente das circunstâncias iniciais”, enfatiza.
Em vez disso, deve-se buscar estratégias específicas para eliminar obstáculos tangíveis, o que normalmente inclui: i) o desenvolvimento de programas de capacitação; ii) acesso a financiamento inclusivo; iii) criação de redes de mentoria; iv) o apoio público e/ou privado em projetos para a criação de um ecossistema empreendedor mais equitativo, entre outras possibilidades.
Ao pensar em como apoiar pessoas empreendedoras com pouco acesso a recursos, é fundamental concentrar-se em soluções práticas. Isso pode envolver o estabelecimento de programas de microfinanciamento, programas de aceleração e incubação, parcerias entre empresas e organizações sem fins lucrativos, organizações da sociedade civil, a promoção de políticas que fomentem a igualdade de oportunidades etc.
Agora, se você é uma pessoa empreendedora que está com a mão na massa, aqui vão alguns caminhos para empreender em um contexto de incertezas.
- Identifique oportunidades emergentes
Nem sempre as pessoas que empreendem por necessidade têm experiência ou formação profissional na área em que estão atuando. No entanto, em qualquer profissão ou negócio, conhecer o mercado é essencial para entender custos, desenvolver produtos, criar estratégias de marketing e vendas, entre outros aspectos.
Por isso, é importante estar atento às mudanças no mercado e às necessidades não atendidas. São nos problemas que encontramos as oportunidades!
- Crie uma mentalidade de testes ligada à inovação
Diferente dos modelos de negócios tradicionais, que possuem referências concretas, negócios que nascem de propostas inovadoras – ou seja, que desejam resolver problemas reais -, precisam trabalhar com hipóteses. É aí que entra a criação de uma mentalidade de testes.
As pessoas empreendedoras criam hipóteses sobre diversos aspectos do negócio, como o problema a ser resolvido, comportamento do público-alvo e impacto de uma possível solução. Essas hipóteses são afirmações supostamente verdadeiras e que precisam ser verificadas por meio de experimentos de alta fidelidade para serem validadas.
- Desenvolva uma Rede de Apoio
Construa relacionamentos sólidos com outras pessoas empreendedoras, mentoras, investidores e profissionais do setor. Essa rede pode fornecer orientação, suporte emocional, recursos e oportunidades de colaboração inestimáveis para o crescimento do seu negócio.
- Avalie a formalização
No Brasil, pessoas que empreendem por necessidade têm a possibilidade de formalizar o seu negócio de forma simples e com baixo custo. O cadastro como MEI (Microempreendedor Individual) na Receita Federal pode ser feito on-line e garante à empresa um CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica).
Uma das formas mais rápidas, fáceis e baratas para começar a operar seu negócio é realizando o cadastro como MEI. Assim, você tem a possibilidade de emitir notas fiscais, algo obrigatório para atuação em diversos segmentos de mercado.
- Monitore o desempenho e o feedback de clientes
Com a transformação digital, o conceito de experiência do cliente ganhou ainda mais atenção de empresas de todos os portes. Portanto, acompanhar o nível de satisfação dos clientes, a experiência que estão tendo antes, durante e depois da compra, e obter feedbacks que ajudem a aprimorar produtos e estratégias deve ser uma prioridade.
Além disso, em um contexto de incerteza, é essencial manter um controle rigoroso sobre os custos e buscar eficiências operacionais sempre que possível. Isso pode envolver a automação de processos, a terceirização de tarefas não essenciais e a otimização do uso de recursos existentes.
- Planeje o médio e longo prazo
Muitos empreendimentos e ideias promissoras não seguem adiante em função da falta de organização no início. Procure ter uma boa organização financeira e um planejamento realista.
Do mesmo modo, é importante ressaltar a necessidade de uma abordagem mais holística, centrada em soluções que verdadeiramente busquem resolver os problemas reais pelos quais a sociedade tem passado – foco no problema e não somente na solução. Problemas ligados à geração de impacto positivo, crises climáticas, justiça social e ambiental. Há um grande número de desafios hoje. Por isso é fundamental não apenas reconhecer as diferenças motivacionais pelas quais as pessoas empreendem, mas comprometer-se ativamente a diluir e remover as barreiras que limitam o acesso e a oportunidade a diferentes pessoas, independentemente de necessidades iniciais.
Assim, é possível trilhar um caminho capaz de driblar as incertezas e prosperar nos mais diferentes contextos.