Startup brasileira de biotecnologia, Decoy mostra que o controle biológico é a melhor solução de combate da praga e que os pecuaristas devem conhecer a dinâmica populacional do carrapato-do-boi em suas regiões, mesmo no inverno


Um dos fatores que mais influencia no desenvolvimento e propagação dos carrapatos é o clima, tão diverso no Brasil. Com as variadas temperaturas e pressões, a presença do parasita ocorre em tempo e intensidade diferentes em cada uma delas. Durante o inverno, período em que as infestações costumam ser menos drásticas, o produtor deve focar no planejamento e aproveitar para se preparar para as próximas estações, em que a propagação da praga aumenta.

Segundo Lucas von Zuben, biólogo e CEO da Decoy Smart Control, desenvolvedora de soluções biológicas para controle de pragas, o pecuarista não deve subestimar as épocas mais frias, pois as primeiras gerações de carrapatos podem surgir nesses períodos. “É fundamental que o produtor se preocupe e conheça o desenvolvimento do parasita em sua região. As temperaturas mais amenas podem dar a impressão de que o período de infestação já passou. Esse relaxamento pode custar caro quando o verão chegar”, alerta.

Para se ter uma ideia, o carrapato é um dos maiores inimigos da produção de leite e carne no Brasil e gera grandes prejuízos à pecuária nacional. Pulso da economia do país, o setor chega a perder R$ 10 bilhões por ano com as consequências que a praga ocasiona, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Na região Sul, mesmo com as baixas temperaturas e seca no inverno, o carrapato consegue se desenvolver. Principal praga da pecuária gaúcha, os parasitas causam a morte de ao menos 100 mil bovinos por ano, gerando grandes prejuízos à pecuária regional, segundo estimativas da SEAPDR. O ácaro é mais prejudicial aos rebanhos de raças europeias, criados predominantemente no estado. “Nos meses mais frios ainda há carrapato nas criações de produtores gaúchos”, alerta von Zuben.

A região Sudeste apresenta condições climáticas que favorecem a sobrevivência do carrapato durante todo o ano. Nos meses de inverno, em que predominam temperaturas mais baixas e menor umidade, o ciclo se alonga, acarretando um menor número de gerações anuais. “Entretanto, nos meses de inverno, entre abril e agosto, que são mais secos e frios, os carrapatos ainda são recorrentes e precisam ser controlados, de modo a evitar prejuízos ainda maiores nas estações mais quentes”, explica o especialista.

Segundo o biólogo, nas regiões Nordeste e Norte as elevadas temperaturas durante grande parte do ano favorecem uma infestação constante ao longo de todos os meses. “Nestes casos, é possível que o carrapato apresente cinco gerações ao longo do ano”, alerta. O mesmo pode acontecer no Centro-Oeste. “Apesar da região ser conhecida por ter quatro gerações por ano, pesquisas recentes têm mostrado que podem acontecer até cinco gerações de carrapatos no período de doze meses”, destaca.

A influência do clima

As condições ambientais no Brasil, especialmente no período de estiagem, favorecem diretamente o desenvolvimento dos carrapatos. “Com as fêmeas já fecundadas, é o melhor cenário para se desprender dos animais e liberar os ovos no solo. Ao mesmo tempo, as condições ambientais facilitam a eclosão das larvas, provenientes dos ovos depositados nas pastagens”, explica o especialista.

De acordo com o biólogo, cada fêmea pode colocar até três mil ovos e, com condições favoráveis e tratamento ineficaz, o parasita pode aumentar gravemente os danos no rebanho. “Altas infestações impactam diretamente na sanidade e produtividade do rebanho. Os animais podem apresentar perda de peso e redução da produção de leite, além de favorecer o desenvolvimento da Tristeza Parasitária”, alerta von Zuben.

Como prevenir as infestações

A primeira orientação do especialista é se preparar para manejar corretamente os animais e a pastagem. Assim, os erros no manejo são mitigados, prezando pelo bem-estar do rebanho. De acordo com o biólogo, entretanto, as alternativas de combate mais encontradas pelos produtores no mercado são agentes químicos que, independentemente da apresentação, possuem ação agressiva. “Os produtos são extremamente tóxicos, tanto para quem manipula, quanto para o animal e o meio ambiente. Além disso, o uso excessivo durante muitos anos aumentou a resistência da praga, implicando em dosagens maiores e em períodos cada vez mais curtos, deixando as soluções sem efetividade”, explica.

Segundo von Zuben, o controle biológico tem se apresentado como um importante aliado da pecuária. “É uma técnica utilizada para combater espécies nocivas, reduzindo os prejuízos causados por elas. A tecnologia consiste em controlar pragas e insetos transmissores de doenças por meio do uso de seus inimigos naturais”, pontua.

A Decoy desenvolveu um tratamento contra o carrapato-do-boi baseado na tecnologia. São dois produtos: um para ser aplicado no rebanho e outro na pastagem. As soluções têm como princípio ativo esporos de fungos, inimigos naturais dos carrapatos. Quando distribuídos no gado e no ambiente, entram em contato com o parasita, germinam e se desenvolvem, levando-o à morte em poucos dias.

“O produto não deixa resíduos no leite e na carne e pode ser utilizado em todo o rebanho, inclusive em vacas prenhes e bezerros”, completa von Zuben. “Além disso, a solução não é tóxica para humanos, e nem para os animais, e, como se trata de um inimigo natural dos ectoparasitas, não há problemas com resistência ao seu método de controle”, ressalta.

Enquanto aguarda a aprovação de documentos junto ao MAPA para iniciar a comercialização, a Decoy estabeleceu um programa de parcerias com pecuaristas. “Disponibilizamos as soluções aos produtores por 12 meses e eles fornecem informações sobre o tratamento, além de uma ajuda de custo para o desenvolvimento das pesquisas. Até agora, temos mais de mil associações em todo o Brasil”, finaliza o CEO.