*Por Bruno Rondani
O ano de 2020 termina marcado pela pandemia que mudou radicalmente nossos hábitos e nos forçou a uma redescoberta do sentido da palavra “essencial”. Redescobrimos que essencial é a preservação da vida, a convivência em família e com núcleos mais próximos, a ressignificação do lar e a valorização das atividades domésticas, o cuidado com o próximo. No âmbito profissional, o medo da perda do emprego, da redução da renda, do fechamento dos negócios, da perda de contato presencial com colegas também ganharam uma nova dimensão.
No ecossistema de inovação, que antes da pandemia esperava um ano de grande crescimento, o cenário rapidamente ficou pessimista. Muitos previram que a crise sanitária, econômica e política afetasse e reduzisse também os investimentos em inovação.
O que vimos, no entanto, foi o oposto: o ano de 2020 foi de recorde atrás de recorde: no venture capital, nos investimentos em open innovation, nos IPOs de startups, na aceleração da transformação digital, no surgimento de novos gigantes da tecnologia e no enorme crescimento das empresas inovadoras.
Acontece que a crise fez todo o mercado perceber o essencial da inovação. Se estamos conseguindo combater essa crise, isso tem se dado por meio da inovação – desde como se adaptar ao trabalho remoto, utilizando tecnologias de videoconferência, até a pesquisa por tratamentos e vacinas são frutos da inovação. Da mesma forma, negócios tiveram que ser redesenhados e adaptados à nova realidade, a partir do uso das tecnologias digitais. Diante desse contexto, as startups tiveram um papel central e foram o motor da inovação, por se adaptarem mais rapidamente e terem a capacidade de abastecer o mercado com milhares de alternativas para um mundo que mudou da noite para o dia.
Nesse sentido, se 2020 foi uma virada cultural para o empresariado brasileiro e a inovação se tornou essencial em todos os setores, em 2021, ela passa a ser inevitável.
Para os profissionais, trabalhar neste novo cenário exige uma transformação pessoal igualmente importante. Seja em startups ou empresas maduras, governo ou qualquer tipo de entidade, o mercado vai exigir cada vez mais a capacidade de inovação de todos. Ou seja, todos os profissionais passaram ou irão passar, em breve, por uma transformação para habilidades ligadas à inovação.
Não à toa, vimos explodir o número e o uso de plataformas de cursos online para capacitação. Porém, embora a teoria também seja importante, a verdade é que inovação se aprende para valer na prática: testando, pivotando, errando e ajustando. E se aprende fazendo junto. É um jogo coletivo, que não se joga sozinho e, mais do que isso, que não se joga só entre membros da mesma equipe, nem mesmo da mesma empresa, mas, sim, entre empresas, na relação entre cliente e fornecedor, entre empresa e startup. Inovação é um jogo cooperativo, e não competitivo.
Ela também exige métodos ágeis, mutáveis, além de flexibilidade e ampliação do escopo de atuação. De repente, o vendedor vira gestor de máquina de vendas, o pós-vendas vira customer success, o gerente de área vira squad leader, só para citar alguns exemplos.
Essas são mudanças que já vinham acontecendo nos últimos anos, em maior ou menor escala, dependendo do setor do mercado. Mas 2021 marca o “tempo esgotado”. Quem não se transformar agora e entrar nas novas carreiras, nos novos métodos e nas novas competências, não importa sua experiência e formação anterior, vai ficar para trás.
Se em 2020 descobrimos o valor de se fazer um pão caseiro, aprendemos a trabalhar remotamente e a estudar online, em 2021, teremos que aprender a produzir inovação, trabalhando em parceria com o ecossistema.
Bruno Rondani é CEO do Movimento 100 Open Startups, principal plataforma brasileira de inovação aberta