*Lucas Flores, CO-CEO da BrBatel

O mercado de crédito é um importante instrumento econômico para estímulo da economia. O crédito permite agilidade nas transações e expansão dos negócios, o que impacta diretamente no desenvolvimento da intermediação financeira e do fornecimento de liquidez aos agentes econômicos.

Se formos analisar friamente, as empresas hoje possuem duas fontes de capital para crescer: o aporte dos sócios ou a captação de crédito. Na grande maioria das vezes, os sócios das empresas não possuem toda a quantia necessária para o desenvolvimento do negócio. Dessa forma, um mercado de crédito estável, confiável e justo é fundamental para o crescimento das organizações e consequentemente da economia em si.

Por exemplo, uma construtora que pretende construir um prédio residencial e precisa de R$ 10 milhões para realizar a obra, na maioria dos casos precisará recorrer ao mercado de crédito para captar esse valor. Em uma economia sólida, a disponibilidade de crédito é fundamental para essa construtora conseguir concluir o projeto e, assim, gerar empregos durante a construção e até mesmo após a finalização do empreendimento.

Em um cenário de crise, como o que estamos vivenciando durante a pandemia do Covid-19, enquanto algumas empresas estão sendo financeiramente beneficiadas, muitas companhias estão sendo profundamente impactadas, resultando em menor (ou nenhuma) geração de caixa. Nessa situação, quando esses negócios já estão consolidados, efetuar uma captação de crédito pode ser o único caminho para que ele continue de pé e, por consequência, mantenha o quadro de funcionários. Assim, quando a crise passar, a empresa volta a gerar caixa e cumpre com todas as obrigações junto aos credores.

É importante salientar, entretanto, que o crédito negociado seja encaixado com a perspectiva de geração de caixa do negócio. Infelizmente, pela pressa ou desconhecimento, muitos gestores financeiros optam por operações visando um cenário otimista, sem pensar que o plano pode possuir falhas, resultando em um cenário ainda pior para a empresa.

As captações de crédito muitas vezes são feitas para crescimento, como abertura de uma nova loja, nova indústria, nova região, ou para capital de giro, o que corresponde a cumprir com as obrigações financeiras do dia a dia. No caso do crédito para crescimento, há geração de emprego tanto durante as obras quanto posteriormente, quando a nova unidade ou empreendimento está concluído. No caso de capital de giro, nem sempre há novas oportunidades de emprego, mas há garantia para oportunidades vigentes dos negócios, mantendo o quadro de funcionários da empresa.

A inflação é um dos fatores mais importantes na decisão do aumento ou diminuição da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central. A Selic maior impacta diretamente nas decisões das empresas na expansão de seus negócios, uma vez que os juros ficam mais elevados, além do custo de oportunidade também ficar mais caro. Ou seja, nesse cenário, em alguns casos vale mais a pena o empresário deixar o dinheiro rendendo no banco do que arriscar, por exemplo, com a abertura de um novo negócio. O cenário ideal do mercado de crédito para auxiliar no crescimento da economia é contar uma taxa Selic não só baixa, mas também estável. Enquanto isso não ocorre, o mercado de crédito precisa, ao menos, criar um ambiente transparente, rápido e justo.

O sistema econômico brasileiro depende do setor terciário (composto pela venda de produtos e prestação de serviços), que hoje é responsável por mais da metade do PIB e pela geração de 75% dos empregos, sendo o maior ramo da economia do país. Então é essencial que o sistema financeiro passe a conceder mais crédito e de forma acessível. Um mercado de crédito aquecido estimula um círculo virtuoso, gerando principalmente maior crescimento econômico e a criação de novos empregos.

*Lucas Flores é CO-CEO da BrBatel e um dos nomes ascendentes do mercado de crédito brasileiro.