João Alfredo Lopes Nyegray*

No sábado, 13/07, um evento chocou a comunidade internacional e exacerbou as tensões políticas internas nos Estados Unidos: o candidato presidencial e ex-presidente Donald Trump foi alvo de um atentado a tiros durante um comício eleitoral na Pensilvânia. Este incidente, ocorrido em um cenário já polarizado, pode definir de uma vez por todas o pleito à Casa Branca deste ano.

Os atentados contra líderes não são um fenômeno raro na história mundial. Esses atos frequentemente refletem as tensões políticas, sociais e econômicas dentro de uma nação, tendo claras implicações para a estabilidade nacional e global. Em 1865, o então presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, foi vítima de um ataque em um teatro em Washington. Em 1914, o assassinato do arquiduque austro-húngaro Francisco Ferdinando e sua esposa Sophie desencadeou a Primeira Guerra Mundial. Em 1948, Mahatma Gandhi foi vítima de um extremista hindu, e em 1963, John Kennedy foi assassinado por Lee Harvey Oswald enquanto desfilava em um carro aberto em Dallas, Texas. Yitzhak Rabin, de Israel, e Benazir Bhutto, do Paquistão, também foram vítimas de ataques diretos. Considerando apenas os Estados Unidos, outros presidentes foram alvo de ataques, como Andrew Jackson (1835), James A. Garfield (1881), William McKinley (1901) e Ronald Reagan (1981). 

Como pode ser observado, os atentados contra líderes políticos não são novidade. São eventos que moldam a história de nações inteiras, destacando as fragilidades e tensões dentro de suas sociedades. Nos Estados Unidos, a série de atentados contra presidentes e candidatos ao longo da história sublinha a natureza vulnerável do processo democrático, assim como a necessidade constante de vigilância e segurança. O que diferencia o recente ataque a Trump dos demais é o momento de intensa polarização em que o ato ocorreu.

Desde sua saída da Casa Branca, Trump continuou a ser uma figura central e controversa no cenário político estadunidense, com uma base de apoio fervorosa e uma oposição igualmente determinada — embora menos unida. A tentativa de assassinato não só intensifica o clima de divisão, mas também levanta questões sobre a segurança dos candidatos presidenciais neste momento em que a própria estabilidade do processo democrático está sendo posta em xeque. Não podemos esquecer que em uma de suas falas, Trump chegou a afirmar que poderia haver um “banho de sangue” caso ele não fosse eleito.

Por isso, a segurança de Trump durante eventos públicos sempre foi uma preocupação, dada a sua capacidade de mobilizar grandes multidões e a natureza polarizadora de sua retórica. Joe Biden, em um pronunciamento após o atentado, condenou — como já era esperado — o ato de violência contra Donald Trump, destacando que a violência política não tem lugar em uma democracia. Biden enfatizou a necessidade de unidade nacional, pedindo aos americanos que rejeitem a violência e trabalhem juntos para resolver as diferenças políticas de maneira pacífica.

Ainda que a resposta do candidato Democrata tenha sido rápida, sua campanha muda drasticamente a partir de agora: imediatamente, propagandas eleitorais com ataques a Trump foram suspensas, tornando tudo mais difícil para Biden, que já enfrentava oposição à própria candidatura dentro de seu partido. Assessores diretos do atual presidente chegaram a afirmar que, agora, é mais complexo apresentar críticas diretas a Trump, seja ressaltando suas falas polêmicas, seja apontando suas condenações na Justiça. Além disso, a forte imagem do candidato ensanguentado, com os punhos em riste em frente a bandeira dos Estados Unidos, certamente se tornará um ativo para a campanha.

Fato é que a estabilidade interna dos EUA é vital para a segurança global e para a manutenção das alianças estratégicas da maior economia do planeta. Um país em desordem interna pode ter sua capacidade de liderança internacional comprometida, afetando questões que vão desde a segurança coletiva até o comércio internacional — ambos em um momento bastante crítico.

O incidente de sábado também pode influenciar a percepção global sobre os Estados Unidos. Já fragilizada por eventos recentes, como a invasão do Capitólio em 2021, a imagem dos EUA como um baluarte da democracia está mais uma vez em risco. Países adversários podem usar este evento para promover narrativas que questionam a estabilidade e a eficácia do modelo democrático americano.

*João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior e do Observatório Global da Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray