João Alfredo Lopes Nyegray*

Com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, realizou-se, na última semana, o primeiro debate entre os pleiteantes de 2024 à Casa Branca: Donald Trump e Joe Biden. Embora nenhum analista esperasse, de fato, um debate propositivo ou mesmo pautado por discussões concretas, o que se viu — além do baixo nível das falas, que envolveram acusações sobre relações sexuais com atriz pornô — foi uma pífia performance de Biden.

A idade do atual presidente já era um ponto de significativa preocupação antes do embate entre os concorrentes: Biden, que completou 81 anos em novembro de 2023, é o presidente em exercício mais velho da história dos EUA. Isto levou a uma apreensão generalizada entre eleitores e analistas políticos sobre a sua aptidão física e mental para cumprir outro mandato.

As preocupações com a idade de Biden foram agravadas por várias gafes verbais de grande repercussão e casos em que ele parecia confuso ou esquecido. Há pouco tempo, por exemplo, o atual presidente confundiu os nomes dos líderes mundiais e até se esqueceu de eventos significativos, como a morte do seu filho, Beau Biden. Esses incidentes alimentaram percepções sobre um possível declínio cognitivo, frequentemente destacado por seus oponentes políticos em vários meios de comunicação.

Além disso, as sondagens mostram consistentemente que uma grande parte do eleitorado estadunidense está preocupada com a idade de Biden. Uma pesquisa recente da NBC indicou que 76% dos eleitores têm preocupações grandes ou moderadas sobre a saúde física e mental de Biden, sendo este sentimento compartilhado por 81% dos eleitores independentes e 54% dos democratas. Essas preocupações não se limitam apenas ao público em geral; ecoam nos próprios círculos democratas, onde estrategistas e doadores estão instando a campanha para que aborde a questão de forma mais agressiva e destaque as realizações e a experiência do presidente.

Dadas estas preocupações, especula-se sobre a possibilidade de os democratas substituírem Biden como seu candidato. Embora isso seja teoricamente possível, tal medida seria sem precedentes e logisticamente complexa nesta fase final do ciclo de campanha. O partido teria de navegar pelas complexidades da nomeação de um novo candidato, o que poderia ser politicamente desestabilizador e arriscaria alienar os eleitores que já estão comprometidos com Biden.

A campanha de Biden tentou mitigar estas preocupações, enfatizando as suas conquistas legislativas e enquadrando a sua experiência como um trunfo fundamental em tempos turbulentos. Eles também tentaram fazer comparações com seu oponente, Donald Trump, que tem 78 anos e é apenas três anos mais novo.

Donald Trump, por sua vez, entrou no debate da semana passada com uma estratégia clara e com sua agressividade habitual. Ele dominou a narrativa ao atacar repetidamente Biden, ignorando muitas vezes as perguntas dos moderadores para manter a pressão sobre o presidente. Esse estilo combativo de Trump ressaltou as fraquezas de Biden e fez com que o presidente parecesse ainda mais defensivo e desorganizado.

Embora seja comum nos Estados Unidos que presidentes em exercício tenham desempenhos inferiores nos primeiros debates de sua reeleição, Biden, após quatro anos na Casa Branca, pareceu não estar preparado para a intensidade do confronto, o que foi evidente em seu desempenho vacilante. Cada vez mais, Trump parece mais próximo à Casa Branca.

*João Alfredo Lopes Nyegray é doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior e do Observatório Global da Universidade Positivo (UP). Instagram: @janyegray