Transformação digital na Saúde e na Educação são debatidos no último dia do Futurecom Digital Summit
O legado deixado pela pandemia do coronavírus já aponta para as grandes mudanças que o mundo globalizado tem absorvido em poucos meses de um aprendizado exponencial em todas as camadas sociais e corporativas. É o que destacam os participantes do último dia de debates do Futurecom Digital Summit no painel “Três anos de Transformação Digital em três meses: Como será a Sociedade do ponto de vista de saúde, educação, econômico e social em 2022?”. O encontro virtual reuniu Sidney Klajner, presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein; Luis Cabral, vice-presidente do Caribbean and Latin America (CSG); Carlos Melles, diretor-presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae); e Carlos Henrique Costa Ribeiro, chefe da Divisão Acadêmica de Engenharia da Computação do Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA).
O Futurecom Digital Summit, organizado pela Informa Markets, totalmente gratuito, em oito dias de discussões on-line, que ocorreram entre os dias 22 de junho a 2 de julho, atraiu um público de mais de 11 mil pessoas, com participação de internautas de todas as regiões do Brasil e de 22 países, que tiveram acesso aos debates virtuais com a mesma qualidade dos conteúdos do encontro físico do Futurecom 2020, que será realizado de 27 a 29 de outubro. O Digital Summit contou com aproximadamente 30 horasde conteúdos preparados e apresentados por um verdadeiro ecossistema composto por mais de 100 profissionais representantes de empresas, associações e sindicatos de diferentes vertentes e segmentos da economia brasileira. Todo o conteúdo gerado nesses encontros virtuais está disponível no site do Futurecom 2020.
Relação consumidor x negócio
Como será a relação consumidor x negócio? Qual será o modelo de gestão e estrutura? Foram os principais questionamentos debatidos neste encerramento do evento on-line. “A pandemia acabou sendo uma grande lente de aumento para o setor da saúde sobre aquilo que é ineficaz e, também, daquilo que é bom”, destaca Sidney Klajner, presidente do Albert Einstein.
O sistema de saúde já impunha desafios de maior acessibilidade da população à área de saúde, às práticas assistenciais, à redução de desperdícios, a uma gestão coordenada de recursos da área, à reiteração por melhor financiamento da saúde para ampliar o acesso, enfim, a atual circunstância escancarou essas ineficiências.
“Alguns avanços foram percebidos, especialmente este recurso da virtualização da relação, que estamos utilizando agora no Futurecom Digital Summit. Isso não foi diferente com a evolução que tivemos na telemedicina, na qual o Einstein foi pioneiro ao lançar em 2012, mas que o País ainda age com uma legislação feita em 2002, onde obriga a necessidade de ter médico nas duas pontas, impedindo de aproveitar as vantagens deste tipo de ferramenta, vencendo barreiras logísticas e geográficas, sem uma distribuição homogênea da medicina no Brasil. Mas com o decreto, ainda que temporário, conseguimos chegar em outros estados para dar capacitação profissional com ferramentas à distância, principalmente em UTIs”, afirma Klajner.
Na opinião do presidente do Albert Einstein, “o grande avanço que a pandemia está nos trazendo é a possibilidade de discutir as ineficiências de maneira mais transparente para que, ao término desta crise, possamos influenciar positivamente o incentivo à inovação, à indústria nacional em saúde, à capacitação adequada. É o desejo de fazer com que desafios de quem atua na saúde, principalmente para melhorar a longevidade e questões como doenças crônicas, possa ser exercido por meio de um sistema único e arrojado e que pode melhorar ainda mais”.
A falta de uma liderança na gestão de saúde para cumprir a Constituição sentida nas esferas municipal, estadual e federal também foi colocada em debate, reforçando que a própria população irá tirar aprendizados com esse momento e poderá pressionar e influenciar lideranças políticas para conquistar esses avanços, juntamente com a atuação de players, stakeholders e empreendedores que têm interesse em melhorar todo esse ecossistema de saúde.
No setor do empreendedorismo, Carlos Melles, diretor-presidente do Sebrae, atenta para o fato de que o universo de micro e pequenas empresas no mundo inteiro representa cerca de 99,5% de quase todas as empresas de todos os países. E no PIB (Produto Interno Bruto), esse percentual alcança em média 55% de participação das empresas nos países mais evoluídos. No Brasil, chega a 27%, conquistando também o seu protagonismo, com 18 milhões de pequenos empreendedores.
“Iniciamos em fevereiro de 2019 um planejamento de modernização para as unidades de Sebrae de 27 estados e passamos a atuar em rede, digitalizados, tendo o digital como a comunicação mais importante para sermos o Sebrae que o Brasil precisa. Trabalhamos em sinergia com as áreas de governo, ministérios, prefeituras, lideranças, programas empreendedores como Sebrae Tec, desenvolvimento de regiões, entre outras, para elevar o nível, olhando a produtividade para ser competitivos”.
Ao focar nesse aspecto, a consequência foi, sem dúvida, conquistar mais prosperidade para o setor PME, projetando um PIB 40% para os próximos dez anos. “Precisamos criar bons líderes para sermos bem liderados. E queremos preparar empreendedores para o futuro”, diz Carlos Melles.
Entre as mudanças que a atual conjuntura provocou no Sebrae, registrou-se um movimento intenso de inclusão e transformação digital. “Não imaginávamos que estivéssemos tão bem preparados. E fizemos tudo o que precisava nesses três meses. Conseguimos colocar todos os nossos colaboradores em home office e exercer nosso principal ativo que é o atendimento de maneira exemplar. A procura para cursos aumentou em 160%. Nos surpreendemos com a grande transformação que fomos capazes de fazer em tão pouco tempo”, comemora Melles. “Temos que ser solidários e buscar parceiros para as pequenas empresas, incentivando a compra nesse meio. Foi o que fizemos, estimulando os aplicativos, como WhatsApp, e tivemos um crescimento significativo. É preciso retomar, reabrir, mas digitalmente”. Os incentivos ao crédito também têm sido olhados com muita atenção pelo Sebrae.
Carlos Ribeiro, vice-reitor do ITA, ressaltou que na educação as tecnologias já estavam disponíveis. “O primeiro grande avanço foi genérico e um tanto vago, mas bastante significativo. Destacamos a experiência geracional (pessoas na faixa de 40 a 60 anos) das atuais lideranças com a crise mundial - situação que, até então, não tinham vivido. Mas produziu os resultados usuais, com a capacidade extraordinária da humanidade de se adaptar a uma dificuldade repentina, utilizando os meios
disponíveis”, afirma Ribeiro. Aconteceram dois impactos na área da educação com avanços imediatos. Primeiro, as formas de interação em geral, que ocorreram em outras áreas, como a possibilidade de conduzir discussões, algo comum no ensino superior, como eventos de parte da rotina do professor, com participação em banca de defesas de teses, reuniões para discussão de projeto, com pessoas em lugares diferentes. “Esse novo modelo de encontro, até por uma questão de custo, vai ser a norma agora. Eventualmente, serão necessárias discussões presenciais para casos mais complexos, mas para a atividade de rotina o avanço é claro”, destacou o vice-reitor do ITA.
No caso do modelo de negócios de educação, o chamado projeto pedagógico, é difícil falar de um avanço perene. Já existiam tecnologia e processos de políticas pedagógicas ligados ao ensino à distância, já praticado de forma consistente por muitas instituições, que envolve um framework específico, diferente do ensino clássico, dotado de um conjunto de tecnologia para atender quem não tem acesso ao campus. Do ponto de ensino presencial, em todos os níveis, o grande avanço foi no know how na disponibilização e busca do conhecimento de professores e alunos no uso de tecnologia para disseminação de conteúdos clássicos (apostilas, material), conteúdos de videoaula e, também, nas formas de interação com ferramentas de ensino on-line).
A experiência de muitas instituições é de adoção massiva dessas tecnologias, professor tendo que reaprender a como dar aula usando esses instrumentos. Isso representa um avanço, pois, em várias instâncias, esse modelo é útil. Mas não há uma expectativa de se transformar em um modelo único. “Acreditamos que possa ser usado, no futuro, em um modelo híbrido, com essas tecnologias sendo parte do processo. A educação tem uma questão que torna as mudanças complicadas, especialmente quando precisam ser adotadas de forma emergencial, uma vez que a educação tem caráter reflexivo, as mudanças são lentas, que impactos têm, o que não combina com alterações bruscas”, pontuou Carlos Ribeiro, que reforçou que “adquirimos essa experiência e sabemos como tratar essas situações de mudanças abruptas. A maioria das grandes instituições vai incorporar essas tecnologias. É fato que o ensino presencial tem características que não podem ser substituídas pela virtualização, mas há vários aspectos que este formato pode se beneficiar dessas tecnologias”.
O maior avanço é a possibilidade de professores e alunos de se envolverem mais fortemente com ferramentas que já estavam disponíveis e que podem ser usadas de forma mais massiva.
Luis Cabral, VP da CSG, que participou da conferência on-line direto dos Estados Unidos, destacou a revolução digital catalisada pela pandemia e, especialmente, a demanda das pessoas por hiperconectividade, uma mudança muito acelerada pela circunstância atual, que vai permanecer e será adotada por vários mercados e governos. Na parte de tecnologia, com provedores de telecomunicações e de serviços, a população enxerga a conectividade de forma imediata, seja pelo uso de chamadas de vídeo, ao pedir refeições em aplicativos, entre outras funcionalidades que foram implementadas a toque de caixa nos últimos meses.
“Mas a mudança estrutural que essas empresas sofreram para prover essa conectividade é que foi o grande diferencial. É uma questão muito complexa e desafiadora. Temos que ter um cuidado com a segurança dos dados dessas pessoas e todo o sistema tem que caminhar nesse sentido”, afirma Cabral.
Modelos do futuro
Quais serão os impactos? Como vamos repensar esses modelos em um futuro próximo? Como vamos atender, por exemplo, o sistema de telemedicina, com uma conexão rápida? Luis Cabral reforçou que um outro ponto importante é a legislação. “É fundamental que o 5G entre no mercado brasileiro, precisamos da velocidade da conexão. Há a necessidade de aportar tecnologia para otimizar modelos de negócios, ou seja, é preciso ter toda uma infraestrutura para atender a diferentes frentes. Há ainda os desafios financeiros para investir em tecnologia”, alertou o VP da CSG.
No suporte da saúde, a telemedicina se mostra extremamente eficaz. E o 5G também é primordial para que esse sistema ganhe escala e solidez, com uma cirurgia podendo ser realizada à distância. As consultas e atendimentos on-line também são bastante eficientes com benefícios como o de evitar o deslocamento de médicos e de pacientes. “80% de urgências leves são resolvidas por telemedicina”, explicou o presidente do Albert Einstein, que destacou que esse sistema coloca os médicos como tutores da saúde, uma transformação possibilitada com o auxílio da tecnologia.
A tecnologia avança nas guerras. E a pandemia é uma guerra. Com isso, a transformação digital que já está há algum tempo em curso foi acelerada e otimizada, com ampliação do uso de Inteligência Artificial e big data, que permite avaliar um grande volume de dados. “Podemos ter um tratamento para determinado paciente de acordo com o sequenciamento genético”, pontou Sidney Klajner.
“Essa transformação digital está acontecendo e foi impulsionada porque todas as instituições que trabalham com essa tecnologia dedicaram seus esforços no combate à pandemia, seja na coleta de um hemograma, interpretação por imagem e de dados que permitem fazer alguma projeção”, afirmou ele.
O Sebrae também avança no contexto da transformação digital. E um dos exemplos trazidos pelo diretor-presidente da instituição foi a parceria firmada com o Magazine Luiza, Mercado Livre e Buscapé no uso de marketplaces, com inclusão de micro e pequenos empresários nessas plataformas digitais para vender seus produtos. “Melhoramos também os ambientes de startups, com aportes de recursos, para apoio às inovações, com as fintechs. “Entendemos que a retomada tem que ser digital, precisamos que estejamos todos aptos a conviver com esse mundo novo”, destacou Carlos Melles.
É consenso que o cenário em 2022 será de mudanças significativas em diferentes setores provocadas pela transformação digital, com aspectos fundamentais como a questão comportamental que se aplica na educação, no empreendedorismo, na medicina, entre outros segmentos. Hoje, há um modelo de interação social que está mudando. A entrega deste serviço será por meio de uma transformação digital completa, desde a infraestrutura até o final da cadeia deste consumidor, com sistema de inteligência artificial e análise de dados, por exemplo. “Teremos uma evolução digital que vai mudar a forma como as pessoas interagem com as outras e com os negócios cada vez mais digital e a experiência do cliente tem que ser fim a fim”, concluiu Luis Cabral, VP da CSG.