*Por Jônatas Mesquita, cofundador da foodtech Beleaf

A busca por alternativas saudáveis e que impactam cada vez menos o meio ambiente é uma tendência crescente na alimentação dos brasileiros. Pesquisa realizada pela McKinsey, em parceria com a plataforma de dados Scanntech, que analisou as movimentações no varejo alimentar em todas as regiões do Brasil durante o último ano, mostrou que produtos com atributos de saudabilidade - como orgânicos, nutritivos e funcionais - continuarão a ganhar relevância. Mais da metade (56%) dos consumidores estão dispostos a pagar mais por itens saudáveis e orgânicos. Além disso, no Brasil, o mercado de alimentos saudáveis e que promovem bem-estar deve crescer a um ritmo de 9% ao ano e chegar a um quinto do total de alimentos embalados em 2030.

Sem dúvidas, a forma mais efetiva de ajudar o meio-ambiente é escolhendo bem o que colocar no prato. E a melhor forma de fazer isso é focar em alimentos inteiros e variados. Inteiros porque não foram processados - o que nos ajuda a fugir dos itens plantados e refinados pela monocultura, uma das maiores causadoras de desmatamento no país. E, variados, pois assim incentivamos a diversos produtores, geralmente pequenos e locais. Afinal, um prato colorido e cheio de vegetais é o reflexo do que é a natureza.

O melhor cenário seria optar por uma dieta plant-based, ou seja, só com alimentos de origem vegetal. No curto prazo, ela dá energia, disposição, melhora a digestão e te faz sentir mais leve. No longo prazo, ela é a única dieta que comprovadamente ajuda a evitar uma série de doenças crônicas - como diabetes, doenças cardíacas e Alzheimer. Se o mundo todo adotasse uma dieta plant-based até 2050, 8 milhões de mortes seriam evitadas todos os anos, devido à redução de infartos, diabetes, doenças cardíacas e câncer, de acordo com dados da Oxford School. Sem contar que, uma alimentação vegetariana é mais ética com os animais e com o planeta. Por exemplo, se alguém substituir a proteína animal pela vegetal em apenas uma refeição do dia, ao longo de um ano ela economiza: 350.209 L de água a menos na cadeia produtiva; 6.336 M2 de terra para produzir os alimentos; e 654 Kgs de CO2 a menos emitidos na atmosfera.

No entanto, a cultura da carne no Brasil é muito forte. Comida é a coisa mais cultural que existe. Comer junto gera senso de pertencimento, cria memória afetiva. Como seres humanos, essas são coisas importantes para nós. E esse é um dos fatores que mais pesa para pessoas que querem parar ou reduzir o consumo de carne ou derivados. Quando você pergunta para um brasileiro o que ele almoça, ele provavelmente vai dizer: arroz, feijão, salada e uma "proteína". Como deixar de comer o hambúrguer suculento, as almôndegas da avó ou aquele sushi no rodízio japonês? Nesse sentido, as "carnes vegetais" são importantes para que não precisemos abrir mão de nada: nem do sabor, da memória afetiva, das nossas escolhas de saúde e ideológicas.

Um dado interessante que demonstra que essa mentalidade está mudando é o número de pessoas que seguem uma dieta “flexitariana” atualmente. Os flexitarianos já são 52% dos consumidores brasileiros, de acordo com pesquisa realizada pelo Ibope. Esse termo diz respeito a um segmento da população que, apesar de não eliminar completamente produtos de origem animal de sua dieta, consomem majoritariamente alimentos de origem vegetal. Com o flexitarianismo, as pessoas começam a entender que o consumo de proteína animal é uma escolha, e não uma necessidade.

Isso abre espaço para um universo de possibilidades, já que existem mais de 20 mil plantas comestíveis no mundo. Mas, para muita gente, salada ainda é sinônimo de alface e tomate. O flexitarianismo dá espaço para cada um escolher o nível de impacto que quer gerar. Afinal, é mais efetivo ter 50% da população gerando impacto 80% do tempo, do que 3% da população gerando impacto 100% do tempo. As escolhas conscientes começam na prioridade dos ingredientes.

*Jônatas Mesquita é cofundador da Beleaf, foodtech especializada em alimentação saudável e plant-based. É formado em Administração pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com MBA em Digital Data Marketing pela Faculdade de Informática e Administração Paulista (FIAP).